I – A Lei do Amor
LÁZARO – Paris, 1862
O amor resume toda a doutrina de Jesus, porque é o sentimento por excelência, e os sentimentos são os instintos elevados à altura do progresso realizado. No seu ponto de partida, o homem só tem instintos; mais avançado e corrompido, só tem sensações; mais instruído e purificado, tem sentimentos; e o amor é o requinte do sentimento. Não o amor no sentido vulgar do termo, mas esse sol interior, que reúne e condensa em seu foco ardente todas as aspirações e todas as revelações sobre-humanas. Feliz aquele que, sobrelevando-se à humanidade, ama com imenso amor os seus irmãos em sofrimento! Feliz aquele que ama, porque não conhece as angústias da alma, nem as do corpo! Seus pés são leves, e ele vive como transportado fora de si mesmo. Quando Jesus pronunciou essa palavra divina, — amor — fez estremecerem os povos, e os mártires, ébrios de esperança, desceram ao circo.
FÉNELON – Bordeaux, 1861
O amor é de essência divina. Desde o mais elevado até o mais humilde, todos vós possuís, no fundo do coração, a centelha desse fogo sagrado. É um fato que tendes podido constatar muitas vezes: o homem mais vil, o mais criminoso, tem por um ser ou um objeto qualquer uma afeição viva e ardente, à prova de todas as vicissitudes, atingindo freqüentemente alturas sublimes.
Jesus disse: “Amai ao vosso próximo como a vós mesmos”; ora, qual é o limite do próximo? Será a família, a seita, a nação? Não: é toda a humanidade! Nos mundos superiores, é o amor recíproco que harmoniza e dirige os Espíritos adiantados que os habitam. E o vosso planeta, destinado a um progresso que se aproxima, para a sua transformação social, verá seus habitantes praticarem essa lei sublime, reflexo da própria Divindade.
Os efeitos da lei do amor são o aperfeiçoamento moral da raça humana e a felicidade durante a vida terrena. Os mais rebeldes e os mais viciosos deverão reformar-se, quando presenciarem os benefícios produzidos pela prática deste princípio: “Não façais aos outros os que não quereis que os outros vos façam, mas fazei, pelo contrário, todo o bem que puderdes”.
Não acrediteis na esterilidade e no endurecimento do coração humano, que cederá, mesmo de malgrado, ao verdadeiro amor. Este é um imã a que ele não poderá resistir, e o seu contato vivifica e fecunda os germes dessa virtude, que estão latentes em vossos corações. A Terra, morada de exílio e de provas, será então purificada por esse fogo sagrado, e nela se praticarão a caridade, a humildade, a paciência, a abnegação, a resignação, o sacrifício, todas essas virtudes filhas do amor.
SANSÃO – Membro da Sociedade Espírita de Paris, 1863
Amai muito, para serdes amados! Tão justo é este pensamento, que nele encontrareis tudo quanto consola e acalma as penas de cada dia. Ou melhor: fazendo isso, de tal maneira vos elevareis acima da matéria que vos espiritualizareis antes mesmo de despirdes o vosso corpo terreno.
Amar, no sentido profundo do termo, é ser leal, probo, consciencioso, para fazer aos outros aquilo que se deseja para si mesmo. É buscar em torno de si a razão íntima de todas as dores que acabrunham o próximo, para dar-lhes alívio. É encarar a grande família humana como a sua própria, porque essa família irá reencontrar um dia em mundos mais adiantados, pois os Espíritos que a constituem são, como vós, filhos de Deus, marcados na fronte para se elevarem ao infinito.
Crede que estas sábias palavras: “Amai muito, para serdes amados”, seguirão os seus cursos. Esta máxima é revolucionária e segue uma rota firme e invariável. Mas vós já haveis progredido, vós que me escutais: sois infinitamente melhores do que há cem anos; de tal maneira vos modificastes para melhor, que aceitais hoje sem repulsa uma infinidade de idéias novas sobre a liberdade e a fraternidade, que antigamente teríeis rejeitado. Pois daqui a cem anos aceitará também, com a mesma facilidade, aquelas que ainda não puderam entrar na vossa cabeça.
II – Lenda Chinesa (Lin e a sogra)
Era uma vez uma jovem chamada Lin, que se casou e foi viver com o marido na casa da sogra. Depois de algum tempo, começou a ver que não se adaptava à sogra. Os temperamentos eram muito diferentes e Lin se irritava com os hábitos e costumes da sogra, que criticava cada vez mais com insistência.
Com o passar dos meses, as coisas foram piorando, a ponto de a vida se tornar insuportável. No entanto, segundo as tradições antigas da China, a nora tem que estar sempre a serviço da sogra e obedecer-lhe em tudo.
Mas Lin, não suportando por mais tempo a idéia de viver com a sogra, tomou a decisão de ir consultar um Mestre, velho amigo do seu pai.
Depois de ouvir a jovem, o Mestre Huang pegou num ramalhete de ervas medicinais e disse-lhe:
“Para te livrares da tua sogra, não as deves usar de uma só vez, pois isto poderia causar suspeitas. Vais misturá-las com a comida, pouco a pouco, dia após dia, e assim ela vai-se envenenando lentamente. Mas, para teres a certeza de que, quando ela morrer, ninguém suspeitará de ti, deverás ter muito cuidado em tratá-la sempre com muita amizade. Não discutas e ajuda-a a resolver os seus problemas”.
Lin respondeu: “Obrigado, Mestre Huang, farei tudo o que me recomenda”.
Lin ficou muito contente e voltou entusiasmada com o projeto de assassinar a sogra. Durante várias semanas Lin serviu, dia sim, dia não, uma refeição preparada especialmente para a sogra. E tinha sempre presente a recomendação de Mestre Huang para evitar suspeitas: controlava o temperamento, obedecia à sogra em tudo e tratava-a como se fosse a sua própria mãe.
Passados seis meses, toda a família estava mudada. Lin controlava bem o seu temperamento e quase nunca se aborrecia. Durante estes meses, não teve uma única discussão com a sogra, que também se mostrava muito mais amável e mais fácil de tratar com ela.
As atitudes da sogra também mudaram e ambas passaram a tratar-se como mãe e filha. Certo dia, Lin foi procurar o Mestre Huang, para lhe pedir ajuda e disse-lhe:
“Mestre, por favor, ajude-me a evitar que o veneno venha a matar a minha sogra. É que ela transformou-se numa mulher agradável e agora eu gosto dela como se fosse a minha mãe. Não quero que ela morra por causa do veneno que lhe dou”.
Mestre Huang sorriu e abanou a cabeça:
“Lin, não te preocupes. A tua sogra não mudou. Quem mudou foste tu. As ervas que te dei são um elixir para melhorar a saúde. O veneno estava nas tuas atitudes, mas foi sendo substituído pelo amor e carinho que lhe começaste a dedicar”.
– Se insistirmos em atitudes boas, vamos conquistar a bondade para nossa alma.
– Se insistirmos em atitudes negativas, vamos engrandecer/fortalecer nossas imperfeições.
Se eu oferecer ódio/rancor a alguém e este o aceitar, aumentará nossos laços de ódio para com ele.
Se eu oferecer ódio/rancor a alguém e este não o aceitar, este sentimento ficará retido em mim.
Ou seja, atitudes negativas inevitavelmente farão mal a nós mesmos.
Não vamos pedir que os outros tenham atitudes bondosas para conosco, vamos NÓS oferecermos bondade aos outros e os outros responderão conforme cada um, porém estamos desta forma, cultivando/semeando nosso caminho. Se a Lin (do conto) tivesse pedido carinho e afeto à sogra, jamais teria recebido. No entanto, ela começou a oferecer carinho e afeto, e não tardou para receber em troca.
O espiritismo nos diz que fomos criados simples e ignorantes, porém destinados ao bem. Deus não criou uns já com virtudes e outros com imperfeições. Nos reforça a idéia de SOLIDIFICAÇÃO das virtudes em nossa alma, dependendo do nosso livre-arbítrio. A Lin solidificou o afeto e o carinho em sua alma. Ou seja, depende de nós a conquista das virtudes.
A repetição pode parecer tola, mas pode ser uma ferramenta para conquistarmos um hábito e a solidificação dos caracteres (bons ou ruins) em nossa alma. Quando falamos “alma” cabe ressaltar que nossa alma é o nosso verdadeiro patrimônio, é aquilo que sobrevive a morte do corpo.
A Lin repetia exaustivamente, com esforço sua atitude de carinho e afeto à sogra e conquistou, em 6 meses, uma virtude. Solidificada em sua alma.
Nós podemos repetir a direção defensiva toda vez que dirigirmos um veículo, com certeza em alguns meses, esta atitude vai se tornar o nosso modo de dirigir, solidificado, um hábito.
Nós podemos repetir o ato de “hoje” não discutir com aquele colega de difícil convivência.
Nós podemos repetir o ato de “hoje” não alimentar um vício.
“Milhões de velas iluminam como um sol” – Emmanuel
Nosso objetivo deve ser o de sermos “vela”. Não precisamos ser um “sol”, se nos dedicarmos a sermos uma vela, que ilumina a nós e ao nosso redor já estaremos fazendo a nossa parte.
III – Doação
A proposta é que encontres a felicidade no amor que tu possas dar. Pois esse é o único amor que terás para sempre contigo.
O amor que os outros te dedicam não é teu, é deles e poderá deixar de recebê-lo por motivos variados, mas o amor que sentes pelos outros é teu e teu para sempre. Essa não é uma grande razão para te sentires feliz?
Assim como o atleta exercita-se para tornar vigoroso os seus músculos, tu deves pôr o teu amor em pleno exercício para que ele se mantenha sempre uma vigorosa fonte de felicidade e paz.
Com tanto amor no coração, por que ficar esperando que os outros te amem? Ama tu, em primeiro lugar! Faze a tua parte e tudo o mais virá por acréscimo e por merecimento.
Do livro De pai para filho – Do livro O Amor em Forma de Vivência e Doação, Maurício Mancini