Completara-se o período de 40 dias durante o qual Jesus, depois da crucificação e morte de seu corpo, permanecera com seus discípulos, congregando-os num mesmo Espírito para que pudessem, dar começo à nobre missão que lhes havia sido outorgada.
As aparições diárias de Jesus àquela gente que deveria secundá-lo no ministério da Divina Lei, haviam abrasado seus corações; e seus suaves e edificantes ensinamentos, cheios de mansidão e humildade, tinham exaltado aquelas almas, elevando-as às culminâncias da espiritualidade, saneando-lhes o cérebro e preparando-os, vasos sagrados, para receber os Espíritos santificados pela sua Palavra, como antes lhes havia ele prometido, conforme narra o Evangelista João.
Tinha o Mestre de deixar a Terra, transpor os mundos que flutuam em derredor do Sol e elevar-se à sua suprema morada, para prosseguir na tarefa que Deus lhe confiara.
Avizinhava-se o momento da partida. Ele iria, mas com ampla liberdade de ação. Sempre que lhe aprouvesse viria observar o movimento que se teria de operar entre as suas ovelhas.
Nesse ínterim, os discípulos o interrogaram a respeito do tempo em que o reinado de Deus viria estabelecer-se no mundo. Ao que lhes respondeu: “Não vos compete saber tempos nem épocas da transformação do mundo, mas sim serdes minhas testemunhas em toda a Terra, da Doutrina que ouvistes, para que o Espírito seja convosco.”
Deveriam os discípulos identificar-se com o Espírito e conhecer o Espírito da Verdade, para, com justos motivos, anunciar às gentes, a Nova da Salvação que liberta-las-ia do mal.
Quem seria, pois, esse Espírito da Verdade, esse extraordinário Consolador que, portador de todos os dons e com todos os poderes, viria realizar tão grande missão?
O Espírito Santo não é um símbolo, uma entidade abstrata, misteriosa, mas as altas individualidades, os ilustres sábios e santos do Mundo Espiritual, que assumiram o encargo de executar a lei Divina, e o fazem aqui na Terra pelo ministério dos profetas – médiuns.
O Evangelho emprega no singular a expressão Espírito Santo, não para designar uma pessoa, mas uma coletividade, como nós empregamos a palavra governo, para exprimir a junta governativa de um país ou de uma cidade.
Segundo se depreende do trecho, Pedro, Paulo, João, todos os Apóstolos e os chamados Santos que se distinguiram por suas virtudes, fazem parte dessa Unidade — Espírito Santo, assim como no tempo em que eles estavam no mundo, outros Espíritos Santos, do mundo Espiritual, vieram testemunhar-lhes e transmitir, por seu intermédio, as mensagens divinas que lhes cabia divulgar.
Mas, narram os Atos dos Apóstolos que, havendo Jesus concluído os ensinos preparatórios para que seus discípulos pudessem receber o Espírito, estes viram o Grande Messias, de volta à eterna morada, ir-se elevando aos ares até que desapareceu as olhos de todos.
Maravilhados com tão singular ascensão, cheios de alegria, admirados do extraordinário poder do Divino Mestre, eles se mantinham, olhos fitos no céu, quando foram atraídos por dois elevados Espíritos que, trajando vestiduras brancas, se puseram a seu lado, e lhes perguntaram: “Galileus, por que estais olhando para o céu? Esse Jesus que se elevou neste momento dentre vós para ser acolhido nos Céus, pela mesma maneira virá, quando precisar visitar a Terra.” (Atos, I, 10-11)
Quantos fenômenos interessantes, quantos fatos espíritas de aparições, de comunicações, de visões, narra o Evangelho! Quantas provas de imortalidade deu o ilustre Nazareno a seus discípulos! Quantas luzes irradiam desta passagem.
Como poderiam aparecer dois varões com vestiduras brancas, se não houvessem Espíritos no Espaço? Donde poderiam vir eles se não houvesse uma outra Vida além do túmulo? Como poderia Jesus ficar quarenta dias, depois de sua morte, com seus discípulos, se o homem fosse todo matéria? E como poderia ele se elevar aos espaços se esse corpo, que sobrevive à morte corporal, não fosse de natureza espiritual.
Foram esses fatos portentosos que ergueram os galileus conturbados pela morte de seu Mestre; foram essas aparições que os encheram de fé e fizeram que arrostassem todos os tropeços, afrontassem todos os suplícios, vencessem todas as barreiras! Foi o grito da Imortalidade que lhes despertou o raciocínio, venceu-lhes a timidez, vivificou-lhes o cérebro e o coração para que saíssem por toda parte a anunciar a todas as gentes, a Palavra do Deus Vivo, os esplendores da Vida Eterna!
Ao influxo de generosos sentimentos, cheios de vida, revestidos de energia, iluminados por essa Esperança que só a verdadeira Fé pode dar, é que eles, descendo do Monte das Oliveiras, onde haviam recebido as ordens do Filho de Deus, voltaram para Jerusalém, onde ficaram aguardando a recepção da ilustre visita do Espírito Consolador, para iniciarem a missão redentora que com tanta coragem desempenharam.
E, então, passaram, mais ou menos dez dias em profunda meditação, em fervorosas orações, mantendo os sentimentos da mais viva Fraternidade, que os envolvia com as meigas carícias dos olhares de Deus.
Dentre todos, além dos onze apóstolos, salientavam-se as santas mulheres, e o total formado era de 120 pessoas, que perseveraram unânimes em oração e recordando os altos ensinamentos que seu Mestre lhes legara.
A História do Cristianismo é a suave melodia que canta a glória desses acontecimentos maravilhosos de que nos falam as Escrituras, começados no Sinai e sancionados pelos reaparecimentos de Jesus. Quem estudar com boa vontade e critério, todo esse desenrolar de manifestações, todos esses fenômenos relatados por todos os profetas que estão em íntima ligação com o Mundo Espiritual; quem estudar com espírito desprevenido todas essas manifestações espíritas que tanta esperança nos vêm dar, não pode deixar de ter uma fé viva, robusta, inteligente, racional, de que o fim da Religião é preparar-nos, não só para a vida presente, como também e, especialmente, para a futura, onde, na Pátria Espiritual, prosseguiremos nosso trabalho de aperfeiçoamento para nos aproximarmos de Deus.
Justificada nesses princípios, nossa Fé se ergue poderosa, inabalável, semelhante àquela “casa construída sobre a rocha”, lembrada na parábola.
É o sentimento da Imortalidade que nos anima, é a certeza da outra Vida que nos faz viver nesta com a fronte erguida, sem desfalecer, embora sangrando os pés por estradas pedregosas, dilacerando as carnes nos espinhos que tentam impedir nossa marcha triunfal para o Bem, para a Verdade, para Deus.
Sem essas luzes que nos vêm do Além, sem essas claridades que surgem dos túmulos, sem esse poderoso farol habilmente manejado pelos Espíritos do Senhor, como poderíamos manter a estabilidade na Fé?
Sem dúvida alguma, o Espiritismo é a base em que se fundamenta essa crença que nos arrima e fortalece.
É ele ainda que nos ensina a benevolência, o amor, a humildade, o desapego aos bens do mundo; as altas lições de altruísmo, de abnegação que a Imortalidade nos impõe.
Como poderíamos, ante uma sociedade materializada e metalizada, renunciar a gozos, fortuna, posições, comodidades, se não tivéssemos a certeza das nossas convicções e se essas convicções não se assentassem em fatos positivos, palpáveis, visíveis, tangíveis que os Espíritos nos proporcionam?
Como poderíamos, nesta época de depressão moral que atravessamos, de toda sorte de baixezas, como poderíamos esforçar-nos para nos livrarmos da corrupção do século?
Qual é o homem racional que, tendo certeza de que tudo acaba no túmulo, renuncia a fortuna, prazeres, bem-estar, em benefício de outros e da caridade?
Qual é esse louco que, podendo comer, beber, folgar, tendo certeza de que tudo termina com a morte, vai repartir o seu sangue com os maltrapilhos que enchem as ruas e as praças?
Sem a Fé, nenhum sentimento generoso poderá erguer a alma humana; sem a Fé, nenhuma caridade, nenhuma esperança, nenhuma virtude pode nascer, crescer, florescer, frutificar na consciência dos homens.
A Fé é o principal motor da Religião, é o fator de todos os atos nobres, de todos os arroubos da alma, de todas as boas ações.
Ela remove todas as dificuldades para aquele que caminha para Deus; brilha na inteligência como o Sol no espelho das águas; dignifica o homem, eleva-o, ilumina-o e o santifica!
Não há palavra que ocupe menor número de letras e mais saiba falar ao cérebro e ao coração.
Com uma só sílaba exprime tudo o de que necessita a criatura para conseguir a sua salvação.
Ter Fé é ter certeza nos nossos destinos imortais, é guiarmo-nos por essa estrada grandiosa, iluminada, que o Cristo nos legou.
Ter Fé é ser possuidor do maior tesouro que a alma humana pode adquirir na Terra.
Foi interpretando essa grande virtude, que Paulo dedicou toda a sua grande Epístola aos romanos à Fé, chegando a afirmar que todos os grandes da Antiguidade, pela Fé, venceram reinos, praticaram a justiça, alcançaram as promessas, taparam as bocas aos leões, extinguiram a violência do fogo, evitaram o fio de espadas; de fracos se tornaram fortes, fizeram-se poderosos e puseram em fuga exércitos estrangeiros!
O Espiritismo vem fazer realçar estes três fatores do progresso humano: a Ressurreição, o Espírito e a Fé, como partes integrantes de um mesmo todo e Indispensáveis ao outro, testemunhos vivos que se afirmam e se completam.
Colunas principais do Cristianismo, são eles que nos dão a visão da Outra Vida, na qual colheremos os frutos do nosso trabalho, dos nossos esforços pelo nosso próprio aperfeiçoamento.