“Quem é fiel no pouco, também é fiel no muito; e quem é injusto no pouco, também é injusto no muito. Nenhum servo pode servir a dois senhores; porque ou há de aborrecer a um e amar a outro, ou há de unir-se a um e desprezar ao outro. Não podeis servir a Deus e às riquezas.” (Lucas, XVI, 1-13.)
O sentido oculto desta parábola visa a estas duas qualidades, pelas quais se reconhece a bondade ou a maldade do homem: fidelidade e infidelidade.
Fidelidade é a constância, a firmeza e a lealdade com que agimos em todos os momentos da vida: na abastança como na pobreza, nas eminências dos palácios como na humildade das choupanas, na saúde como na enfermidade, e até nos umbrais da morte como no apogeu da vida.
O Apóstolo Paulo, demonstrando sua lealdade, sua constância, sua fidelidade, sua firmeza de caráter, dizia: “Quem me separará do amor de Cristo?”
A fidelidade é a pedra com que se prova o grau do caráter do homem.
É fiel nos seus deveres? Tem forçosamente todas as qualidades exigidas ao homem de caráter: reconhecimento, gratidão, indulgência, caridade, amor, porque a verdadeira fidelidade não se manifesta com exceções ou preferências. Aquele que caminha para se aperfeiçoar em tudo, obedece à sentença de Jesus: “Sede perfeitos como perfeito é o vosso Pai Celestial.”
Como tudo na Natureza e como tudo o que se faz mister para a perfeição, quer no plano físico ou na esfera intelectual e moral, a fidelidade vai-se engrandecendo em nós à proporção que nela nos aperfeiçoamos. Não a adquirimos de uma só vez em sua plenitude, mas paulatinamente, gradativamente.
As riquezas da parábola são os bens materiais, dos quais não somos mais que depositários, não são NOSSAS, porque não prevalecem para a OUTRA VIDA.
O que é NOSSO são os bens incorruptíveis, dos quais Jesus falou também a seus discípulos, para que os buscassem de preferência, porque “os vermes não os estragam, a ferrugem não as consome, os ladrões não os alcançam nem a morte os subtrai.”
Devemos servir somente a Deus, ou seja, termos fidelidade e constância a Deus e não deixar o pensamento dominado tão somente pelas riquezas. As riquezas da parábola podem ser: propriedades, fortuna, posição social, família e até mesmo nosso corpo físico. Somos apenas Administradores destas riquezas, pois na verdade não são nossas.
Todas essas coisas nos são colocadas à disposição durante algum tempo, a fim de serem movimentadas para benefício geral, mas, em realidade, não nos pertencem. A prova disso está em que sempre chega o dia em que seremos despojados delas, quer o desejemos, quer não.
Nossa infidelidade consiste em utilizarmo-nos desses recursos egoisticamente, como se fossem patrimônio nosso, dilapidando-o ao sabor de nossos caprichos, esquecidos de que não poderemos fugir à devida prestação de contas quando, pela morte, formos despedidos da mordomia.
Pois bem, já que abusamos da Providência, malbaratando os bens de que somos simples administradores, tenhamos ao menos o esforço de auxiliar os sofredores de todos os matizes, pois também são criaturas que se acham endividadas perante Deus, são pecadores que têm contas a saldar com a Justiça Divina, e auxiliá-los em suas necessidades, minorar lhes as dores e aflições corresponde a diminuir-lhes as dívidas, de vez que, via de regra, todo sofrimento constitui resgate de débitos contraídos no passado.
Se assim agirmos, ganharemos a amizade e a gratidão desses infelizes, que se solidarizarão conosco quando deixarmos este mundo, bem assim a complacência do Pai Celestial, porque muito Lhe apraz ver-nos tratar o próximo com misericórdia.
Quão maiores louvores, entretanto, haveríamos de merecer de Deus!
Sejamos, pois, colaboradores fiéis da Divindade, gerindo os bens materiais de que dispusermos em conformidade com os ensinamentos sublimes que nos foram ditados por Jesus no Sermão da Montanha; assim fazendo, estaremos acumulando, no céu, um tesouro verdadeiramente imperecível. Sim, porque as virtudes cristãs, que formos adquirindo no convívio com nossos semelhantes, são as únicas riquezas efetivamente nossas, e só elas nos poderão dar a felicidade perfeita, nos tabernáculos eternos!
Quem é fiel no pouco, também é fiel no muito…
Esta frase deve fazer-nos refletir da nossa fidelidade para com os nossos deveres, com as coisas certas, honestas, retas. Em um momento em que todos reclamam dos grandes corruptos que assolam nosso país, cabe a reflexão das pequenas corrupções, os pequenos desvios de conduta que nos fazem infiéis a Deus, infiéis aos princípios puros de Jesus:
E tantos outros que parecem facilmente justificáveis: Todos fazem!
Não caiamos na armadilha da infelidade e da insconstância, sejamos justos e honestos sempre e em qualquer situação.
“Se queres mudar o mundo, dê duas voltas ao redor da sua casa.”