Como anda nossa tolerância?
Temos dificuldade em aceitar quem pense diferente de nós?
Temos dificuldade para suportar quem saiba menos, ou quem pareça ser menos inteligente?
Precisamos falar sobre essa virtude que é o mínimo necessário para uma convivência saudável.
Tolerar é aceitar o que poderia ser condenado, é deixar fazer o que se poderia impedir ou combater.
Portanto, é renunciar a uma parte de seu poder, de sua força, de sua cólera… Assim, toleramos os caprichos de uma criança ou as posições de um adversário.
A tolerância tem a ver com a humildade, ou antes, dela decorre.
De acordo com Voltaire: “Devemos tolerar-nos mutuamente, porque somos todos fracos, inconsequentes, sujeitos à mutabilidade, ao erro.”
Humildade e misericórdia andam juntas, e esse conjunto, no que se refere ao pensamento, conduz à tolerância.
“Tolerar não é, evidentemente, um ideal”, já notava Abauzit, “não é um máximo, é um mínimo.”
Se a palavra tolerância se impôs, entretanto, é sem dúvida porquê de amor ou de respeito todos se sentem muito pouco capazes, em se tratando de seus adversários. Ora, é em relação a eles, primeiramente, que a tolerância age…
“Esperando o belo dia em que a tolerância se incline ao amor”, conclui Jankélévitch.
Tolerar – por menos exaltante que seja esta palavra – é, pois, uma solução passável; à espera de melhor, isto é, à espera de que os homens possam se amar, ou simplesmente se conhecer e se compreender, demo-nos por felizes com que eles comecem a se suportar.
É pequena virtude, mas indispensável. É apenas um começo, mas o é.”
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A tecnologia vem permitindo que nos comuniquemos cada vez mais, com uma quantidade sempre maior de pessoas.
As redes sociais, os telefones móveis, são alguns dos mecanismos que nos mantêm em contato uns com os outros.
Outrora, para conversarmos com alguém, necessário era estar junto a essa pessoa.
Para conhecer seu posicionamento sobre algum assunto, teríamos que esperar um encontro para a troca de ideias.
Poucas eram as chances de trocar experiências, ou de analisar outros pontos de vista.
Não é a realidade atual.
Conseguimos nos expressar de inúmeras maneiras, em um raio de ação antes impensável.
As redes sociais fazem ecoar nossas opiniões muito além do que imaginamos.
De igual forma, somos alcançados pelas opiniões de tantos, próximos ou não de nosso círculo de amizade.
É natural que nem sempre concordemos com a opinião alheia.
Algumas vezes são as posições políticas, ou a visão sobre sistemas de governo.
Em outro momento, nos vemos à frente de posturas que acreditamos serem insensatas, ou mesmo tolas.
Muitos expressam opiniões que julgamos despropositadas, inadequadas.
Nesses momentos, nasce a oportunidade de desenvolvermos em nós a tolerância.
No século XVIII, Voltaire, célebre filósofo humanista, afirmou que poderia não concordar com nenhuma das palavras que alguém dissesse, mas defenderia até a morte o direito desse alguém de pronunciá-las.
E assim o fazia porque tinha clara a plena percepção de que todos têm o direito de expressar as suas ideias.
Ser tolerante com o pensar do outro não nos obriga a aceitar o que ele pensa.
Ser tolerante é ter o entendimento que ninguém é obrigado a pensar e agir como fazemos.
Cada um de nós traz os seus valores, seus conceitos, sua visão de mundo.
Assim escolhemos nossa postura política, nossa religião, nossos valores.
E nascerá sempre da tolerância nossa capacidade de bem conviver com a diversidade.
O amadurecimento perante a vida nos fará conviver com o diferente, sem precisar impor nossas diferenças.
A cada um suas crenças, seus valores.
A todos nós, o respeito uns com os outros, oferecendo a liberdade de pensar e agir que desejamos para nós mesmos.
Esses dias de convívio de ideias cada vez mais intenso e frequente, são também dias de convite a fomentarmos a tolerância.
Sem a tolerência, a guerra se faz, as disputas se acirram, as famílias se dividem, as amizades se desfazem.
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Tolerância é caminho de paz.
Não julguemos esse ou aquele companheiro ignorante ou desinformado, porquanto, se aprendemos a ouvir, já sabemos compreender.
Diante de criaturas que nos enderecem qualquer agressão, conversemos com naturalidade, sem palavras de revide que possam desapontar o interlocutor.
Perante qualquer ofensa, não percamos o sorriso fraternal e articulemos alguma frase, capaz de devolver o ofensor à tranquilidade.
Nos empecilhos da existência, toleremos os obstáculos sem rebeldia e eles se farão facilmente removíveis.
No serviço profissional, suportemos com paciência o colega difícil, e, aos poucos, em nós observando a calma e a prudência, ele mesmo transformará para melhor as próprias disposições.
Em família, toleremos os parentes menos simpáticos e, com os nossos exemplos de abnegação, conquistaremos de todos eles a bênção da simpatia.
Trabalhemos em nós essa virtude, a partir de agora.
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Os grandes problemas da impaciência e da intolerância são as perdas que o próprio intolerante sofre.
A primeira delas é, obviamente, a perda da serenidade.
Sem serenidade, não temos condições de avaliar com frieza as circunstâncias que nos envolvem, de modo que possamos enxergar as saídas e soluções possíveis.
Perdendo a serenidade, perdemos também o bom senso.
Paciência é respeito.
Respeito aos outros e a nós mesmos.
Seja paciente você também.
Você verá que é muito mais produtivo trabalharmos pacientemente do que nos irritarmos com o que não será modificado do dia para a noite.
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A tolerância exalta o ser, pois é característica eminentemente humanitária e é um elemento agregador e fomentador da paz e da concórdia.
Este nobre sentimento habita o coração da criatura que adquire consciência de si e do mundo, entendendo-se como ainda imperfeita e, por este motivo, passível de erro.
A tolerância une e fortalece as criaturas, pois as estimula seguir o nobilitante preceito cristão, a regra de ouro universal, que recomenda dispensarmos a outrem tratamento igual ao que desejarmos receber.
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Baseado nos textos:
Tolerância é caminho de paz – Redação do Momento Espírita, com base no cap. Tolerância, do livro
Pequeno tratado das grandes virtudes, de Andre Compte Sponville, ed. Martins Fontes e no texto Tolerância, do livro Plantão de paz, pelo Espírito Emmanuel, psicografia de Francisco Cândido Xavier, ed. IDE. Em 19.9.2013.
Tolerância e respeito – Redação do Momento Espírita. Em 30.5.2015.
Tolerância – Redação do Momento Espírita, com base no cap. 34, do livro Convites da Vida, pelo Espírito Joanna de Ângelis, psicografia de Divaldo Pereira Franco, ed. LEAL. Em 15.10.2018.
Tolerância e Crença – Enviado em 03/06/2015 | Escrito por Cristian Macedo (Jornal Mundo Espírita de Outubro de 2001)